Quebrando o Silêncio

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Jogos e comportamentos violentos

Jogos com conteúdos violentos possuem seus consumidores e defensores. “Eu sei discernir as coisas”, é a desculpa dada por muitos jovens e adultos para justificarem o hábito de jogar estes jogos. Será que sabem mesmo? Será que possuem esse nível alto de controle mental para não se permitirem ser influenciados pelo conteúdo do jogo? Há […]


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shutterstock_51928348Jogos com conteúdos violentos possuem seus consumidores e defensores. “Eu sei discernir as coisas”, é a desculpa dada por muitos jovens e adultos para justificarem o hábito de jogar estes jogos. Será que sabem mesmo? Será que possuem esse nível alto de controle mental para não se permitirem ser influenciados pelo conteúdo do jogo?

Há vários anos atrás, meu esposo teve uma experiência interessante com um jogo de conteúdo violento. Ele estava habituado a joga-lo com alguns colegas de trabalho, e até então, provavelmente, se sentia seguro quanto ao efeito do jogo sobre sua mente. Até que um dia um colega discordou dele em algo sem muita importância, e o pensamento automático que ele teve foi de imaginar-se mirando na cabeça do colega para atirar. Mirar e atirar fazia parte do jogo. Naquele momento ele ficou chocado com seu próprio pensamento. Entendeu que aquele jogo estava longe de ser inocente.

Imagine os efeitos que jogos violentos podem ter sobre a mente de uma criança ou adolescente!

A exposição frequente a um determinado conteúdo pode gerar um efeito que chamamos de dessensibilização. Trata-se de uma redução ou eliminação da sensibilidade a algo. Quando a exposição se dá por meio de jogos, este efeito se agrega ao efeito da modelação. Modelação tem a ver com o modelar comportamentos a partir da prática, do exercício, da experimentação. Num jogo, o jogador não é um expectador passivo. Muito pelo contrário. Ele tem uma papel a desempenhar ali. Isto faz com que, além de ele se tornar menos sensível ao conteúdo do jogo, ele adquira, também, habilidades (pelo menos mentais) relacionadas àquele conteúdo.

Vários estudos científicos apontam a relação entre videogames, pensamentos agressivos e comportamentos menos solidários. Em um desses estudos, participaram 257 alunos do ensino médio. Os alunos foram divididos em dois grupos. A um grupo foram dados jogos classificados como violentos e ao outros grupo jogos classificados como não-violentos. Cada participante teve 20 minutos para jogar. Após esse tempo, todos os participantes foram expostos a um vídeo de 10 minutos, contendo cenas de violência extraídas de programas de TV e filmes. Os participantes que haviam jogado jogos violentos tiveram menos reações físicas que aqueles que haviam jogados jogos não-violentos. Para os pesquisadores, este resultado aponta para uma redução da sensibilidade à violência, após jogar jogos violentos.

Às vezes pais e professores não compreendem porque adolescentes e crianças estão agindo de forma tão violenta em sala de aula ou em casa. O que muitas vezes eles não observam é que tipo de conteúdo estas crianças e adolescentes estão consumindo. Especialmente os jogos, mais do que a TV, têm um poder de influência sobre a mente e o comportamento humano que merecem atenção.

 

Karyne Lira Correia, Psicóloga

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