Quebrando o Silêncio

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Exploração sexual de crianças e adolescentes sob a ótica de quem trabalha nas estradas do Brasil

Uma pesquisa realizada com a participação de 239 caminhoneiros brasileiros, verificou a percepção que estes participantes possuíam acerca da exploração sexual de crianças e adolescentes. Dentre estes entrevistados, 85 já haviam saído com crianças e adolescentes para a realização de programas sexuais. Muitos destes afirmaram que não costumavam perguntar a idade das garotas com que saíam […]


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“Ah, é o preço de um almoço”. Isto é o que se paga por serviços sexuais de crianças em adolescentes em muitas cidades do Brasil.

“Ah, é o preço de um almoço”. Isto é o que se paga por serviços sexuais de crianças e adolescentes em muitas cidades do Brasil.

Uma pesquisa realizada com a participação de 239 caminhoneiros brasileiros, verificou a percepção que estes participantes possuíam acerca da exploração sexual de crianças e adolescentes. Dentre estes entrevistados, 85 já haviam saído com crianças e adolescentes para a realização de programas sexuais. Muitos destes afirmaram que não costumavam perguntar a idade das garotas com que saíam e cujos serviços sexuais contratavam.

Ao serem questionados sobre os motivos pelos quais as crianças e adolescentes são prostituídas, as principais respostas dadas pelos participantes foram: Necessidade financeira (39%); São exploradas por alguém (15,6%); Elas gostam de fazer sexo/têm prazer (12,8%). Eles citaram, também, que em algumas regiões do Brasil (como Norte e Nordeste) o serviço sexual de crianças e adolescentes é mais barato que em outros (como Sul e Sudeste). Um participante chegou a dizer: “Ah, é o preço de um almoço”.

Ao falarem sobre os motivos pelos quais homens preferem fazer sexo com crianças/adolescentes, as principais respostas apresentadas foram: Por ter mais excitação e prazer (36,3%); “Safadeza, falta de vergonha na cara, doença” (21,5%); Sentir-se poderoso/reafirmar a masculinidade (15,7%). A razão “fantasia/curiosidade” também foi citada, mas por apenas 4,3% dos participantes. Segundo os pesquisadores, ficou muito marcada a associação entre padrão de beleza e juventude. Os homens que consomem este tipo de serviço parecem se sentir mais machos e até mesmo orgulhosos da ideia de poder ter relação sexual com garotas jovens. Daí o relato de haver mais prazer e excitação, assim como a reafirmação da masculinidade. Por outro lado, há os que vêem esta prática como doentia.

Os pesquisadores perguntaram aos participantes que não haviam saído com crianças e adolescentes, a razão pela qual não haviam feito isto. As razões apontadas foram: Sabe que é errado/ é contra (20,8%); Evitar problemas com a justiça (18,6%); Não tem tesão (18%); Respeito por elas serem “menores”/ são como as filhas e as netas (18%); Respeito à esposa/ fidelidade (12,6%); Não teve oportunidade (6%); Medo de doenças (3,3%); Medo de ser difamado/falta de coragem (2,7%). Estas respostas demonstram que muitos não utilizaram serviços sexuais de crianças e adolescentes devido ao medo das consequências, seja através da justiça, do meio social ou até mesmo contraindo doenças. Isto demonstra a importância de leis rígidas no combate à este tipo de crime, uma vez que é em função das consequências aplicadas por estas leis que muitos não se envolvem nesta prática ilegal. Além disso, podemos perceber que o fortalecimento dos laços familiares é muito importante. Um homem que tem vínculos familiares fortes tem maior probabilidade de pensar em sua esposa, assim como nas filhas e netas ao ser abordado por alguém que lhe ofereça serviços sexuais.

Fica evidente, também a necessidade de uma mudança cultural, de mentalidade, sobre o ser homem e o ser mulher. Uma cultura machista na qual o homem se vê no direito e até mesmo na obrigação de ter experiências sexuais com diferentes mulheres, incluindo crianças e adolescentes, é uma cultura que sustenta a exploração sexual de crianças e adolescentes. Questões ainda mais básicas, como educação e condição econômica merecem não apenas atenção, mas intervenção política, para que, em alguns casos, crianças e adolescentes não se vejam na obrigação de serem prostituídos para auxiliar no sustento da família.

 

Referência da pesquisa citada:

MORAIS, N. A. et al. Exploração sexual comercial de crianças e adolescentes: um estudo com caminhoneiros brasileiros. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 23, n. 3, p. 263-272, 2007.

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