Crianças estão cada vez mais conectadas com o mundo, e menos com as pessoas. As gerações recentes são as mais influenciadas pelos meios tecnológicos. Em uma sociedade onde não se admite perder tempo, a falta de supervisão dos adultos em relação às ações das crianças, seja dentro ou fora da internet, pode ser determinante para problemas futuros. É nesse contexto que o bulllying e seus efeitos acabam ganhando mais força.
O historiador Élder Hosokawa, do Unasp campus Engenheiro Coelho, acredita que isso se deu por uma mudança na estrutura familiar, além da presença de outro agravante: o consumo indisciplinado. “Antigamente, os pais possuíam meia dúzia de filhos, mas hoje geralmente um, sendo que esses pais têm menos tempo para estar com ele e, inclusive, monitorá-lo. Outro ponto são os apelos ao consumo criados para pais e filhos, e que se traduzem basicamente em parafernália eletrônica”, analisa.
O fato é que, quanto mais a internet for usada para aproximação virtual, aumentam as chances de distanciamento pessoal. Sem o apoio dos mais velhos, crianças ficam desprotegidas, e situações como o bullying podem afetá-las fortemente. É por conta dessa realidade que a psicóloga Carolina Coelho entende que a supervisão dos pais é essencial. “Dependendo da idade, é necessário ficar de olho nos relacionamentos e nos contatos, mas também ensinar questões que envolvem liberdade – até onde se deve ir ou não”, aconselha.
Mesmo que crianças e adolescentes não gostem do controle dos mais velhos, o acompanhamento dos responsáveis é essencial para evitar consequências ruins. Há pouco tempo, o metalúrgico Gilberto Vieira comprou um computador para auxiliar suas atividades e as tarefas dos filhos. Por entender os riscos de as crianças o utilizarem descontroladamente, Gilberto procura estar por perto enquanto os filhos usam o computador. “O cuidado que eu e minha esposa temos é a questão de estar junto com eles quando estão pesquisando alguma coisa ou mesmo quando estão usando a internet para algum tipo de diversão”, explica.
A princípio, os filhos de Vieira não têm apresentado efeitos de quem teria sofrido bullying, e nem mesmo, comportamento de bullies – pessoas que cometem bullying. Ainda assim, ele nota que o comportamento deles demonstra certas alterações, em alguns momentos. “Às vezes, eles podem não ver em casa, mas você percebe que o convívio com outros colegas que tem este acesso sem o mesmo controle acaba influenciando no modo de expressar, falar”, conta.
Vale ressaltar que boa parte desse convívio com colegas ocorre na escola. É aí que entra o papel do professor em meio a tais questões. “A gente sabe que as crianças têm a tendência de querer falar a verdade, e isso pode vir a machucar outros. O professor tem uma função importante ao levar o esclarecimento das situações”, lembra a psicóloga Carolina.
A proximidade dos adultos antes e durante a ocorrência pode ser determinante para que as vítimas do bullying saibam o que fazer. “É importante que ela não aceite a situação ficando calada e aprenda a se defender, mas sem usar de violência. E é claro, precisa ter a certeza de que pode procurar alguém mais velho – um pai, um professor”, explica.
Uma alternativa para a educação dos pequenos na era tecnológica é sugerida pelo historiador Hosokawa. “A família tem que estar ciente de que o computador não vai ensinar valores de crescimento, paciência, respeito. Quem me ensinou isso foi meu pai, há 40 anos”, lembra. Apesar de não ser contra o uso das tecnologias e da internet, Hosokawa acredita que são as coisas simples da vida que darão “sustentação no futuro”.
Por Willian Vieira