Quebrando o Silêncio

Campanha 2023

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Lembro-me de quando eu e meu esposo planejamos a chegada do nosso filho. Inicialmente, houve euforia e felicidade, mas, à medida que a gravidez avançava, meu corpo se transformava e os enjoos frequentes mudaram nossa rotina. Antes do parto, o medo e a insegurança se instalaram em minha mente. Uma cesárea de emergência foi realizada para salvar a mim e ao bebê, por causa da perda signi­ficativa de líquido no rompimento antecipado da bolsa, seguido da não dilatação e de horas de espera. O turbilhão de emoções e surpresas continuou ao amamentar e cuidar do bebê. A recuperação da cirurgia e o retomar a vida levou tempo, mas a boa equipe de profissionais de saúde, a assistência do meu esposo e a rede de apoio dos familiares e amigos me ajudaram a superar as dificuldades e viver o melhor dessa experiência.

Infelizmente, nem sempre a maternidade resulta em realização. Fatores como falta de planejamento familiar e de vínculo a uma maternidade no pré-natal, desinformação, ausência de uma rede de apoio e de acompanhante na sala de parto, bem como o descumprimento das leis que garantem o direito ao atendimento médico adequado, podem potencializar o padecimento da mãe e do filho. Mais grave e traumático é quando ocorrem maus-tratos. Ainda não há consenso sobre o termo correto para se referir à imposição de um grau significativo de dor e sofrimento evitáveis à parturiente e ao bebê. Há entidades e acadêmicos que chamam a prática de “violência obstétrica”, enquanto outros, incluindo a Organização Mundial de Saúde (OMS), referem-se a ela como “abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto nas instituições de saúde”. Fato é que esse problema diz respeito aos maus-tratos físicos, psicológicos, xingamentos, negligência e procedimentos impostos pelos profissionais de saúde que desrespeitam a autonomia materna para tomar certas decisões. Todo tipo de abuso antes, durante ou depois do parto, viola o direito à vida e à saúde, podendo afetar seriamente a mãe e o bebê. Por isso, em caso de violência, a denúncia deve ser levada aos órgãos competentes. O nascimento de uma vida transforma vidas. Com acolhimento, apoio, informação e um bom acompanhamento médico em cada fase é possível proporcionar uma experiência feliz na maternidade. Cuidar de quem gera a vida é promover o que Jesus nos oferece: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (João 10:10).


JEANETE LIMA é educadora e coordenadora da campanha Quebrando o Silêncio na América do Sul.

Quebrando o Silêncio é um projeto educativo e de prevenção contra o abuso e a violência doméstica promovido anualmente pela Igreja Adventista do Sétimo Dia em oito países da América do Sul, (Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai) desde o ano de 2002. A campanha se desenvolve durante todo o ano, mas uma das suas principais ações ocorre sempre no quarto sábado do mês de agosto. Este é o “Dia de ênfase contra o abuso e a violência”, quando ocorrem passeatas, fóruns, escola de pais, eventos de educação contra a violência e manifestações na América do Sul. A cada ano um tema é escolhido para ser discutido e abordado com propósito de conscientizar a comunidade, denunciar abusadores e ajudar as vítimas. 

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