Quantas pessoas você conhece que possuem um celular com câmera e conexão à internet? Bom, isso é tudo que se precisa para estar conectado a um universo virtual, atualizando cada passo do seu dia. Vivemos numa era em que a tecnologia está cada vez mais acessível, e, consequentemente, tem se tornado algo natural para nós. Os aplicativos e as redes sociais nos permitem dizer ao mundo onde estamos e o que estamos fazendo.
Interessante é a forma como nos envolvemos nisso. Você publica uma foto no Instagram, que está associado ao seu Facebook. Em poucos segundos alguém clica em “curtir”. Em poucos minutos alguns de seus contatos já comentaram a foto. Os comentários em sua maioria são positivos, repletos de adjetivos desejáveis. Em algumas horas, dezenas, ou até mesmo centenas de pessoas já deram algum feedback positivo sobre a foto publicada. Essa foto pode ser, pura e simplesmente, a foto de seu rosto, mostrando o novo corte de cabelo feito. Eu lhe pergunto: quantas pessoas, das que passam por você na rua, no seu trabalho e no supermercado, dedicam poucos segundos que sejam para elogiar você por um corte de cabelo? Se você é mulher, esposa de um homem desatento, sabe que, muitas vezes, nem o marido percebe a mudança. Mas, na internet, uma quantidade razoável de pessoas não só percebe como elogia e lhe faz se sentir muito bem. Isso que eu acabo de descrever é apenas um dos processos que torna as redes sociais algo tão envolvente.
A despeito das questões relacionadas à autoestima e à dependência que alguns indivíduos desenvolvem em relação à internet, existem pessoas que se dedicam em ser virtualmente agradáveis o suficiente para criar um envolvimento muito profundo com quem está do outro lado da tela e se aproveitar de alguma forma desse relacionamento. Em meu consultório, e creio que no de meus colegas de profissão, cada dia mais chegam casos de pessoas que se envolveram virtualmente com alguém de forma inadequada e perigosa. Felizmente, esses chegam ao consultório para buscar ajuda. Mas alguns, lamentavelmente, não o fazem a tempo.
É bem verdade que a maldade existe fora do universo virtual, mas da mesma forma que a tecnologia encurtou a distância entre nós e muitas coisas boas e interessantes, ela também tem encurtado a distância entre nós e muitos perigos. Se alguém precisava nos vigiar para saber onde estamos, agora basta ele nos seguir no Foursquare. Se precisava conviver um pouco conosco para saber quem são nossos amigos, basta alguns cliques no Facebook. Pessoas que nunca vimos na vida sabem onde trabalhamos, estudamos, que comidas e músicas gostamos, que programas de TV assistimos. E com tantas informações à mão, torna-se muito fácil conquistar e envolver alguém num relacionamento com intenções perigosas.
B. F. Skinner, um dos grandes nomes do estudo do comportamento humano, escreveu que “os estímulos sociais são importantes para aqueles aos quais o reforço social é importante”. O reforço social é, entre outras coisas, o feedback positivo que recebemos das pessoas, o comportamento que elas emitem em resposta ao nosso próprio comportamento, e que nos agrada (comentários e “likes” que elas fazem nas fotos, por exemplo). Somos seres sociais. O outro nos afeta, nos incomoda e nos satisfaz. É sobre o outro que criamos expectativas, e é do outro que aguardamos retorno. E em uma cultura em que o material se tornou mais importante que as pessoas, por uma condição que chamamos de privação, nossa necessidade de reforço social aumenta ainda mais.
Carências afetivas e necessidades sociais podem ser supridas de forma saudável, e se necessário com auxílio profissional. Podemos utilizar a internet para produzir bons relacionamentos e estreitar relações já existentes. Precisamos apenas desenvolver atitudes que nos mantenham seguros em um mundo onde não h�� fronteiras para a informação.
Karyne Lira Correia é psicóloga.