Em agosto a diretora de uma escola pública de Contagem (MG) foi agredida e ameaçada por um estudante da unidade. A situação precisou de intervenção policial e ganhou destaque na mídia. Casos recentes, divulgados pela imprensa, de violência nas escolas mostram a realidade de um problema antigo. A relação professor-aluno parece enfrentar uma grande crise.
Situações de professores que sofrem agressões, dentro e fora da sala de aula, ou que perdem o controle e a compostura diante da dificuldade de lidar com a rotina estressante de trabalhar com turmas numerosas, é uma realidade que atinge todo o país. Pesquisas realizadas anteriormente evidenciam que não se trata de algo recente.
Em 2003 a Unesco organizou uma pesquisa em que verificou o nível de violência nas escolas brasileiras. Das seis capitas pesquisadas 30% dos professores afirmaram ter visto arma nas mãos de alunos. Na época 86% dos professores admitiam conviver com a violência.
A professora da rede pública Cláudia Yamaguti explica que a violência geralmente ocorre quando o aluno não concorda com a atitude do professor. “Quando o professor vai chamar atenção é agredido”, conta. Segundo a professora de matemática Cecília Almeida, que possui 38 anos de experiência na área da educação, muitas vezes uma característica física ou de personalidade é motivo para que alunos rejeitem o professor. Em alguns casos uma turma toda não aceita o perfil de um professor que sofre represália até onde suportar ou chegar ao ponto de ser substituído.
Quando agredido o professor pode recorrer primeiramente aos pais do aluno, quando a participação familiar não é suficiente ele deve buscar o conselho tutelar, e em última instância a polícia deverá ser acionada. No entanto, conforme a gravidade o auxílio policial é necessidade imediata. Como no exemplo da diretora na região metropolitana de Belo Horizonte.
Para Cláudia, a violência escolar é reflexo de problemas na estrutura familiar. Ela defende a ideia de que os pais quando educam bem o filho esse não dá problema na escola. “Não conhecemos nossos alunos, de onde ele vem, sua origem”, indaga.
A doutora em Geografia Humana, Germana Ramirez, justifica que essa realidade da educação brasileira é fruto de um processo histórico acarretado por diversos fatores, entre eles, a modernização da sociedade. A imagem do professor, segundo a especialista, está desvalorizada diante da sociedade e isso reflete no comportamento do aluno diante do educador. “Antes o professor era autoridade, o centro do saber, em termos de status ele não ocupa o mesmo espaço que ocupava antes”, explica.
Alguns Estados estão tentando prevenir a violência dentro da escola. São Paulo, por exemplo, desenvolve projetos na área, como o “Prevenção também se ensina”, existentes desde 1996, e o “Comunidade Presente”, de 1998. Através do Departamento de Educação Preventiva da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) esses programas devem funcionar adaptados a rotina escolar das unidades de educação. Outro projeto é o Sistema de Proteção Escolar. Em execução desde 2009, inclui professores que atuam como mediadores, trabalhando com métodos pedagógicos e de práticas preventivas contra conflitos escolares. Produzindo materiais de orientação ao combate do bullying entre outros tipos de violência.
Para Cláudia a experiência contribui bastante, é importante sempre pensar em como é possível evitar entrar em conflito com aluno. Apesar de não ter acompanhado muito de perto ela conhece casos de colegas vítimas de violência. “Muitas vezes os professores não denunciam por medo”, afirma.
Segundo Germana, para que iniciativas antiviolência funcionem é de fundamental importância a valorização da imagem do professor. “Valorizar o professor através da parceria professor, escola e sociedade”, sugere. [Equipe ASN, Murilo Bernardo]