A análise de relatórios recentes divulgados por vários órgãos de proteção e defesa dos direitos humanos pelo mundo traz uma constatação: o número de crimes de abuso e violência dentro do ambiente familiar cresceu durante a pandemia. Esse aumento é atribuído ao fato de que, com as medidas de isolamento, vítimas e agressores passaram a conviver sob o mesmo teto durante mais tempo. Há de se considerar, ainda, que essas mesmas medidas restritivas tornaram mais difícil o acesso das vítimas às delegacias e outros órgãos assistenciais, o que pode contribuir para a subnotificação dos casos de agressão.
Outra estatística que se destaca no cenário pandêmico está relacionada à saúde mental. Segundo pesquisadores, a redução do convívio social, o aumento do estresse na família, as perdas materiais e imateriais e a limitação de certas atividades estão entre as principais razões para o crescimento e a piora de casos de depressão, ansiedade e outros transtornos emocionais.
Cuidado da família
Em busca de contribuir com soluções, a campanha Quebrando o Silêncio deste ano foca nestas demandas, provocadas ou agravadas pela pandemia no ambiente doméstico. Suas ações vão desde palestras e consultorias gratuitas com profissionais da área do direito, da psicologia e da assistência social, até a distribuição de materiais com conteúdo educativo.
De acordo com a coordenadora do projeto em oito países sul-americanos, Jeanete Lima, o grande objetivo deste movimento é a prevenção. “A gente entende que alguém que tem informação consegue se proteger de possíveis abusos. Também buscamos prestar o amparo às vítimas. Isso não é algo tão simples, mas temos o Ouvido Amigo, que é um canal online com profissionais preparados para fazer uma primeira escuta de acolhimento a essas pessoas, e temos parcerias com órgãos públicos, para os quais encaminhamos os casos de maior necessidade”, explica.
Dentre os materiais a serem distribuídos para a comunidade estão revistas direcionadas a diferentes faixas etárias. A versão para o público adulto, por exemplo, reúne artigos escritos por especialistas em diversas áreas, que abordam temas como: sinais de abusos nos relacionamentos, métodos para ajudar uma vítima de violência, indícios de abusos sexuais em crianças e formas de prevenção, a família como difusora de respeito e valores, etc. Já para os adolescentes, a revista aborda temas semelhantes em linguagem contextualizada, e ainda outra versão, em forma de quadrinhos, leva este conteúdo para as crianças. Estão disponíveis, também, flyers que resumem as principais informações dos periódicos. Todos estes materiais são produzidos nos idiomas português e espanhol. Suas versões digitais, bem como detalhes sobre a campanha e outros materiais de apoio, estão disponíveis no site quebrandoosilencio.org.
O dia 28 de agosto foi escolhido para marcar as ações do projeto no Brasil, Uruguai, Paraguai, Argentina, Chile, Bolívia, Peru e Equador. No entanto, a campanha se estende ao longo de todo o ano, considerando que as demandas abordadas não estão restritas a um período específico.
A campanha
Criado em 2002, o projeto Quebrando o Silêncio se propõe a combater e prevenir diversos tipos de vício, abuso e violência. É promovido anualmente pela Igreja Adventista do Sétimo Dia em todo o mundo, porém, com metodologias e temas distintos, definidos de acordo com a realidade de cada região do planeta. Em reconhecimento à sua relevância e contribuição social, vários estados brasileiros incluíram em seus calendários oficiais uma data para destaque da campanha.