Escuto com frequência os relatos de pessoas que, durante a infância, sofreram algum tipo de abuso, seja na escola, igreja ou dentro do próprio círculo familiar, ambientes em que as crianças e adolescentes deveriam estar protegidos. Os índices relacionados a esse tipo de violência têm aumentado de maneira assustadora, e não podemos ficar indiferentes a eles. Segundo uma pesquisa divulgada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em novembro de 2017, 15 milhões de garotas de 15 a 19 anos haviam sido forçadas a fazer sexo, sendo que 60% delas tinham passado por isso no ano anterior à pesquisa.
Quando nos deparamos com esse quadro, o grande drama é saber que por trás desses números encontram- se vítimas indefesas que estão sendo marcadas por dor e sofrimento, e colhendo inúmeros problemas, como baixa auto- estima, depressão, ansiedade, pânico e isolamento social.
Para que esses índices diminuam e os direitos das crianças e adolescentes sejam garantidos, é preciso educar a população. E isso poderá ocorrer se famílias e instituições religiosas, educacionais e sociais se unirem com o objetivo de instruir as novas gerações a se protegerem e mostrar onde buscar ajuda. Esse apoio pode ser oferecido, por exemplo, por meio da realização de palestras e debates sobre a temática, além da distribuição de revistas como esta.
Com o objetivo de descobrir se as crianças e adolescentes se tornaram vítimas, é necessário observar mudanças de comportamento e verificar se eles apresentam algum atraso no desenvolvimento físico, emocional ou intelectual. O pedido de ajuda deles pode vir também por meio de um familiar, colega ou mesmo professor. Acima de tudo, é preciso estar atento, pois os agressores costumam ser pessoas conhecidas da vítima e, muitas vezes, pertencer ao núcleo familiar. Tudo isso aumenta o drama da pessoa violentada, pois ela sofre sem saber onde pedir ajuda. Ela tem medo de as consequências de sua história se tornarem conhecidas.
Diante desse cenário, o projeto Quebrando o Silêncio não poderia deixar de debater sobre um assunto tão sensível, mas urgente. Por isso, preparamos uma edição especial para não apenas falar do problema, mas principalmente apresentar ações de prevenção, evitar o aumento do número de vítimas e dar acolhimento
a fim de prestar suporte àqueles que carregam feridas ainda não cicatrizadas.
MARLI PEYERL é educadora e coordenadora da campanha Quebrando o Silêncio na América do Sul