Provavelmente, esta não é a primeira vez que você, leitor, acompanha um texto cujo tema central é a palavra ‘bullying’. A palavra, que aparentemente virou modismo no Brasil, é largamente utilizada na Europa e nos Estados Unidos para definir ações intencionais de violência psicológica ou física. Para a psicóloga Karyne Lira o fato de, atualmente, o assunto receber tratamento tão intenso, principalmente pela mídia, pode até parecer que o tema é novidade. No entando, não é de hoje que a expressão faz parte do cotidiano da sociedade brasileira. Nos dicionários da Língua Portuguesa, a palavra ‘bulir’ significa mexer, tocar, incomodar, aborrecer, provocar; compreensões próximas daquilo que entendemos por bullying.
Para o sociólogo Daniel Rodrigues Aurélio, não é prudente afirmar que os meios de comunicação têm estimulado a prática do bullying devido à sua intensa cobertura sobre o assunto. Para exemplificar, o sociólogo compara a exploração deste tema com a cobertura sobre casos de corrupção na política nacional. Não é que os políticos se tornaram mais corruptos nos últimos anos, segundo ele. “O que aconteceu foi que as denúncias estão cada vez mais presentes na imprensa”, completa. E, em se tratando da exploração do tema bullying, a realidade para o sociólogo é parecida: acontecimentos que, antes, eram guardados como segredo, hoje ganham o conhecimento do público.
Comportamento - Isso ocorre, inclusive, porque a sociedade atualmente vive um contexto mais flexível. “Temos uma maior abertura para informações e reflexões sobre o tema bullying que, de fato, tem despertado crescente atenção e preocupação, sobretudo em pais e educadores”, reflete Aurélio. Ou seja, a sociedade tem aberto espaço para discussões sobre temas que antes, muitas vezes, eram guardados como um segredo. A mesma opinião é compartilhada pela psicóloga. “Esse é um comportamento que já era comum na época de nossos pais e avós, mas que era nomeado de maneira diferente pelas pessoas das gerações passadas”, aponta Karyne.
Portanto, sendo um nome conhecido, ou não, atenção aos casos de violência nunca é demais. “A existência de uma terminologia não necessariamente indica uma definição clara e inquestionável sobre o que é a prática, quais seus limites ou como resolver a questão”, alerta Aurélio. Até porque existem outros tipos de violência que, como Karyne lembra, são tão impactantes quanto o bullying. A psicóloga adverte que casos de humilhação e coação contra calouros em universidades, assim como o assédio moral, muito frequente em empresas, devem ser igualmente combatidos. Estas práticas em sua essência se assemelham ao bullying, mas por não receberem esse nome são, muitas vezes, toleradas.
“O que precisa ser trabalhado é a sensibilização do outro, e não simplesmente a divulgação do que é bullying”, propõe a psicóloga Aline Zeeberg. “É preciso encorajar o autor a pedir desculpas, a colocar-se no lugar do outro, trabalhar sua própria autoestima”, salienta. E não somente isso. Aline ainda repreende aqueles que não se manifestam ao tomarem conhecimento de que um colega sofre violência. “Aqueles que assistem, os espectadores, também devem ser sensibilizados, ou seja, devem ser de alguma forma responsabilizados pelo que vêem e não denunciam, e não apenas serem indiferentes”, defende.
Liana Feitosa é estudante de jornalismo no Centro Universitário Adventista (Unasp-EC).