Não se engane: o álcool também é uma droga. Embora sua comercialização seja regulamentada, ele causa dependência e pode prejudicar várias esferas da vida. Estudos comprovam que, quanto mais cedo a pessoa começa a fazer uso dele, maior a chance de desenvolver a dependência ao longo da vida. Além de outras consequências que são noticiadas diariamente em jornais e telejornais, como violência doméstica e acidentes no trânsito, o impacto causado na saúde física e mental é outra questão que não pode ser ignorada.
Como se não bastasse o consumo abusivo da bebida alcoólica, o crack vitima milhões de pessoas ao redor do mundo, transformando-se em um pesadelo social. Governos, famílias e instituições que lutam para ajudar quem não tem condições de vencê-lo sozinho já não sabem mais o que fazer ao ver uma das mais pesadas e prejudiciais substâncias químicas levar indivíduos a um quadro de dependência e condições destrutivas.
Por isso, a revista Quebrando o Silêncio conversou com a psiquiatra Ana Cecília Marques, professora afiliada da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Doutora em Ciências pela mesma instituição e atual presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead) – entidade que há 40 anos realiza um trabalho de prevenção e elaboração de diretrizes para o tratamento de diferentes dependências –, a médica ajuda o leitor a compreender quais são os efeitos dessas drogas na mente e no corpo humano, e a refletir por quais razões o mais sensato é ficar bem longe delas.
EFEITOS DO ÁLCOOL
Eles podem variar de acordo com a dose. Com até duas latas de cerveja, dois copos de vinho ou duas doses (40 ml) de destilados, por exemplo, ocorre a liberação de dopamina, um hormônio cerebral, promovendo uma desinibição comportamental e verbal. No entanto, ao longo do tempo, alguns efeitos se tornam mais graves e complexos.
CÉREBRO: Libera dopamina no sistema límbico e promove desinibição comportamental, psicológica e social. Com o aumento da dose e pela abertura dos canais de cloro dos neurônios, libera outro hormônio que deprime o funcionamento do sistema nervoso central; o efeito depressor do etanol chega a promover uma anestesia e até o coma; pode levar à morte por depressão respiratória e parada cardíaca.
OLHOS: Visão turva e dupla.
CORAÇÃO: Taquicardia; hipertensão arterial; acidente vascular hemorrágico; miocardite.
PULMÕES: Aceleração do ritmo respiratório e depressão; aumento da taxa de infecções.
FÍGADO: Aumenta agudamente o trabalho enzimático; o uso crônico causa fibrose, esteatose, cirrose e câncer.
ESTÔMAGO: Aumenta a produção de gastrina, desenvolve gastrite e pode chegar a úlcera e até câncer na região gastrointestinal.
SANGUE: Com o uso crônico, altera a formação das células sanguíneas e produz anemia.
SEXO: Costuma desinibir o comportamento sexual em baixa dose, o que pode levar a sexo sem proteção e contaminação por diversas doenças; o uso crônico pode levar à impotência.
PÂNCREAS: Inflamação aguda e crônica.
MÚSCULOS: Fraqueza; inflamação crônica (polineurite crônica); atrofia e incapacidade para andar.
EFEITOS DO CRACK
A forma como essa droga atinge a mente e demais órgãos do corpo está relacionada à quantidade consumida, da mesma maneira que a bebida alcoólica. Entre os níveis de uso estão o agudo, a intoxicação e o crônico, que pode evoluir para dependência.
CÉREBRO: Libera dopamina, o que desinibe, mas também acelera o funcionamento em geral; inibe o apetite e o sono; aumenta a velocidade da fala e pode produzir uma enxurrada de ideias. À medida que se aumenta a dose, produz ansiedade extrema, paranoia, com delírios e alucinações, psicose, assim como episódios de pânico.
OLHOS: Dilata a pupila.
CORAÇÃO: Acelera os batimentos cardíacos, podendo produzir arritmias; aumenta a pressão arterial; produz acidentes vasculares isquêmicos (infartos).
PULMÕES: Aumenta a frequência respiratória; produz broncoespasmos.
FÍGADO: Acelera o metabolismo.
ESTÔMAGO: Gastrites, hemorragias e isquemias.
SANGUE: Altera a formação das hemácias e produz sangramentos.
SEXO: Aumento do apetite sexual a curto prazo e impotência a longo prazo.
PÂNCREAS: Hemorragias.
MÚSCULOS: Tremores e hipersensibilidade cutânea.