Expectador participante

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Expectador participante

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shutterstock_194891015Existem muitas razões para não consumir pornografia. Igualmente muitas são as justificativas de quem consome este tipo de conteúdo. Já tratamos aqui, em textos anteriores sobre estes dois assuntos. Hoje, gostaríamos de falar um pouco sobre expectadors participantes.

Muita gente pensa que assistir algo, é uma atividade inocente, passiva. Seja um filme violento, uma novela cheia de cenas de adultério e mentiras, ou a vídeos com conteúdo pornográfico, quem gosta dessas coisas parece se ver distante da prática daquilo que está assistindo. “Eu não mataria alguém”, “eu não trairia meu esposo”, “eu não abusaria de uma mulher”, podem dizer estes que se sentem meros expectadores. Contudo, eles são mais participantes daqueles atos do que pensam.

Isto é o que entendemos quando conhecemos os chamados "neurônios espelho". Ao estudar o consumo de pornografia e seus efeitos a um nível neurológico, Struthers (2009), citado por Lopes (2013), verificou que a exposição a este tipo de imagem criam vias neuronais que se tornam automáticas e influenciam a interação com mulheres. Segundo o autor, qualquer mulher pode se tornar uma estrela porno aos olhos dos homens que consomem pornografia.

Quando contemplamos um comportamento, os neurônios espelho são ativados de forma que o cérebro reage como se estivéssemos nos comportando daquela maneira, e não apenas contemplando o comportamento. Quando um sujeito assiste pornografia, estas células fazem com que o cérebro reaja como se ele mesmo estivesse envolvido no ato sexual. A experiência neurológica que se tem diante de um filme pornográfico, segundo o autor, é então uma experiência de um participante vicário.

É de se esperar que com o tempo esta mente, constantemente submetida a estímulos pornográficos, se comporte de forma inadequada para com o sexo oposto, uma vez que estará dessensibilizada quanto à objetalização da mulher. Isto pode se dar de diversas formas. Desde comportamentos simples do dia a dia, como tratar com inferioridade a mulher, até comportamentos mais complexos, como violenta-la sexualmente (ainda que esta relação sexual se dê dentro do casamento). A forma como a nossa mente lida com algo, orienta a forma como agimos.

"É lei, tanto da natureza intelectual como da espiritual, que, pela contemplação nos transformamos. O espírito gradualmente se adapta aos assuntos com os quais lhe é permitido ocupar-se.” Mente, Caráter e Personalidade, vol.1, pág. 331

Referência:

LOPES, A.S.S.P. Consumo de Pornografia na Internet, Avaliação das Atitudes Face à Sexualidade e Crenças sobre a Violência Sexual. 2013. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica e de Aconselhamento) – Departamento de Psicologia e Sociologia, Universidade Autónoma de Lisboa, Lisboa, 2013.