Quebrando o Silêncio

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NUTRIÇÃO E VIOLÊNCIA

A saúde da mente depende da saúde do corpo.


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O conceito de que a nutrição afeta o comportamento não é novo.

O poeta romano Juvenal imortalizou a relação entre a saúde do corpo e da mente com a frase “Mens sana in corpore sano” (Uma mente sã num corpo são – Sátira X, ano 512).

No século 17, a voz do célebre filósofo britânico John Locke (1693) enfatizou que a saúde da mente depende da saúde do corpo.

Bartolomeo Beccari, químico da Universidade de Bologna, escreveu em 1728: “O que somos nós, senão o que comemos?”. Em 1855, essa verdade foi sintetizada pelo filósofo alemão Ludwig Feuerbach com a famosa frase: “O homem é o que ele come!”.

Um movimento de reforma de saúde iniciado nos Estados Unidos no século 19 ainda impacta o mundo. Segundo o movimento, a alimentação determina não somente a saúde física e as doenças, como também a saúde mental, a inteligência, o temperamento e a espiritualidade.

Dois dos mais proeminentes líderes desse movimento, Sylvester Graham e John Harvey Kellogg, promoveram o uso de alimentos naturais e condenaram o consumo de alimentos cárneos, pois a ingestão das carnes levaria à deterioração das funções mentais e excitação de paixões inferiores ou sensuais (Crusaders for Fitness: The History of the American Health Reform, 1982).

O Dr. Kellog escreveu que nove-décimos de todas as doenças crônicas, incluindo males morais e sociais como a agressão e atos de violência estariam associados à digestão das carnes e subsequente absorção de toxinas pelos intestinos e constipação. (Plain Facts for Old and Young, 1882 e The Itinerary for Breakfast, 1919).

Ellen G. White também escreveu extensivamente dentro deste período histórico de reforma de saúde e da mesma forma incentivou uma alimentação simples, natural e vegetariana. Ela escreveu: “Os males morais do regime cárneo não são menos assinalados do que os físicos [...] O regime cárneo muda a disposição, fortalece o animalismo [...] e diminui a atividade intelectual” (Conselhos para a Igreja, p.234).

A questão da relação entre o consumo de certos alimentos e comportamentos agressivos ou antissociais continua sendo levantada. Já avançando para o século 21, o papel da nutrição dentro da criminologia ganha um novo rumo com Bernard Gesch.

Esse pesquisador da Universidade de Oxford publicou em 2002 um estudo no periódico científico The British Journal of Psychiatry sobre nutrição e comportamento antissocial de jovens prisioneiros. Concluiu que a ingestão diária de vitaminas, minerais e ácidos graxos essenciais reduziu em 35% os incidentes disciplinares e em 37% os incidientes graves.

O médico e diretor do Physicians Committee for Responsible Medicine, Neal Barnard, afirma que a mudança de uma alimentação cárnea para uma vegetariana aumenta a ingestão de vitaminas e outros nutrientes.

Por trás de uma milenar obsessão pelo consumo de carnes, existe toda uma história e muitos mitos. No livro “Meathooked” (2016), M. Zaraska mostra que proteínas e nutrientes necessários para uma vida saudável estão plenamente disponíveis nos vegetais em geral. E conclui que o consumo e a digestão de vegetais são compatíveis inclusive com nossa anatomia.

Provavelmente não exista uma única solução ou método infalível para os problemas da violência sexual e dos comportamentos antissociais. Embora a nutrição seja apenas parte da resposta, é algo que está ao nosso alcance. A alimentação natural, integral e vegetariana é um passo simples e econômico que pode fazer a diferença em cada cada lar e na sociedade como um todo.

Marcia Lobo Vidoto Ph.D. em Nutrição.
Palestrante e autora do livro Saúde Nua e Crua, que trata dos alimentos na prevenção e na cura de doenças e da qualidade de vida.

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