Quebrando o Silêncio

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Nadando contra a corrente

O que é a integridade, esse bem tão precioso que tende a desaparecer? O dicionário Aurélio define a palavra como aquilo que é “íntegro, inteiro e completo”. Ao se referir a uma pessoa, diz que é aquela que tem uma reputação ilibada, reta e inatacável. A pessoa íntegra não está dividida. Ela se comporta de […]


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Captura de Tela 2016-08-18 às 14.35.43O que é a integridade, esse bem tão precioso que tende a desaparecer? O dicionário Aurélio define a palavra como aquilo que é “íntegro, inteiro e completo”. Ao se referir a uma pessoa, diz que é aquela que tem uma reputação ilibada, reta e inatacável.

A pessoa íntegra não está dividida. Ela se comporta de igual maneira tanto em público, quando todos a veem, como em particular, quando está sozinha com sua consciência. É no lar que se revela como realmente é: a mesma pessoa no trabalho, na vizinhança, na sociedade.

Lamentavelmente, o clima ideológico no qual o mundo atualmente se encontra, que relativiza todos os absolutos e os valores morais, substituiu a ética do dever (Kant), com base em princípios (faço o que devo, o bem pelo bem mesmo), por uma moral do tipo utilitária, pragmática (faço o que me convém), e especialmente hedonista (faço o que gosto, o que sinto, o que me dá prazer). O homem atual (pós-moderno) não se interessa tanto em ser bom ou em fazer o bem, mas em ficar bem, sentir-se bem.

Dessa maneira, os relacionamentos se tornaram efêmeros, descartáveis, já que aqueles que participam deles não são confiáveis, comprometidos, esforçados, pois são levados daqui para lá pelos ventos dos gostos, dos prazeres, pelo interesse pessoal, individualista, sendo facilmente abatidos pelas pressões e decepções da vida. Gente que não está disposta a pagar o preço para manter um relacionamento, que não se move por valores, mas apenas pelo imediatismo e bem-estar pessoal, sem espírito de amor abnegado, que é o único amor verdadeiro.

Ser diferente

Na Bíblia, há um personagem cujo exemplo de integridade é altamente inspirador e educativo: José (Gênesis 39).

Esse menino, de apenas 17 anos, é vendido como escravo por seus próprios irmãos (por inveja) e levado ao Egito. Ali, apesar de sua desgraça, ele não se entrega à autocompaixão e ao abandono, mas se destaca em seus labores a tal ponto que seu amo, um oficial sênior do Faraó, “o fez mordomo da sua casa, e entregou na sua mão tudo o que tinha. [...] Potifar deixou tudo na mão de José, de maneira que nada sabia do que estava com ele, a não ser do pão que comia” (Gênesis 39:4, 6).

Que incrível e incomum! Um adolescente, estrangeiro, escravo, chega a ser tão confiável diante dos olhos desse capitão da guarda do Faraó que seu amo confia à sua mão todos os seus bens.

No entanto, além de sua integridade, José tinha outra virtude: “Ora, José era formoso de porte e de semblante” (v. 6). Esse fator, no entanto, jogou contra ele, porque “a mulher do seu senhor pôs os olhos em José, e lhe disse: Deita-te comigo” (v. 7).

Alguns podem pensar que seria a coisa mais natural do mundo que esse jovem aceitasse esse convite tentador: José estava no auge de seu desenvolvimento sexual, com toda a potência de sua virilidade. Além disso, ele estava longe do calor de sua casa, precisando muito de afeto. E talvez você considere que, em meio a tanta desgraça, ele necessitava de algum tipo de satisfação compensatória.

No entanto, a Bíblia diz, simples e francamente, que “ele recusou��� (v. 8). E não é que não quis porque lhe faltava virilidade ou tinha sua identidade sexual confusa, mas porque havia um princípio superior que governava sua conduta: “[José] disse à mulher do seu senhor: Eis que o meu senhor não sabe o que está comigo na sua casa, e entregou em minha mão tudo o que tem; ele não é maior do que eu nesta casa; e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porquanto és sua mulher. Como, pois, posso eu cometer este grande mal, e pecar contra Deus?” (v. 8, 9).

Note os dois elementos de grande beleza da resposta moral de José, pelos quais rejeitou esse convite: ele era leal ao seu senhor egípcio e tinha lealdade suprema para com Deus.

Diante dessa negativa, essa mulher provavelmente teria desistido de seu empenho. No entanto, o relato bíblico sublinha que ela insistia com seu assédio “cada dia” (v. 10). Se José, logo, na intimidade de seu quarto, tivesse começado a ter fantasias eróticas e considerado a possibilidade de passar “um bom momento” com ela, e assim afogar suas mágoas no prazer sexual, a história teria sido diferente.

Um preço a pagar

Mas esse garoto era o mesmo em público e no privado. Ele não a escutou “para se deitar com ela, ou estar com ela” (v. 10). As respostas negativas de José chegaram a tal ponto que, já em uma medida desesperada, “pegando-o pela capa, lhe disse: Deita-te comigo!” (v. 12). José, a despeito da possibilidade de parecer ridículo, decidiu fugir da tentação: “Mas ele, deixando a capa na mão dela, fugiu, escapando para fora” (v. 12).

Muitos talvez pensem que Deus recompensou imediatamente a integridade de José com maior prosperidade material e social. Longe disso. Essa mulher mentiu e difamou José, acusando-o de haver tentado abusar dela (v. 13-18). O marido, finalmente, colocou o jovem na prisão, como se ele fosse um criminoso.

Como José deveria ter reagido? Se sua ética houvesse sido utilitária ou hedonista, poderia ter concluído: “Não faz sentido ser íntegro. Em minha casa, fui um filho fiel, trabalhador e, como recompensa, fui vendido como escravo, fui parar em um país estrangeiro e pagão. Com essa mulher, eu me comportei com pureza moral e integridade e, como resultado, vou parar na prisão. Não vale a pena seguir com meus princípios, manter minha integridade”.

Mas essa não foi a reação de José. Diante dessa injustiça, seguiu sendo o mesmo jovem trabalhador, honesto e íntegro de sempre, a tal ponto que também, de maneira incomum, o carcereiro chegou a confiar o cuidado do resto dos presos a ele (v. 21-23).

A história de José terminou muito bem, pois finalmente, por circunstâncias que agora não vêm ao caso mencionar, chegou a ser primeiro-ministro do Egito. Porém, o notável é o tipo de pessoa, a grandeza moral, que a presença de Deus pode produzir na vida de quem decide amá-lo, servi-lo e ser-lhe fiel.

Quantos lares necessitam desta virtude íntima – a integridade – para garantir a fidelidade dos cônjuges, o bom trato entre o casal e com os filhos, o cuidado da saúde e a abstinência do consumo de qualquer tipo de substância que prejudique as faculdades mentais e morais e que, eventualmente, possa levar à violência doméstica, à criminalidade ou ao descuido das responsabilidades laborais e familiares!

Apesar de milenar, a Bíblia contém vários ensinos que ajudam a moldar um caráter reto, um coração íntegro e movido pelos grandes valores que ultrapassam o tempo e gerações. Portanto, não deixe de considerá-la uma fonte de sabedoria para uma vida melhor.

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