Quebrando o Silêncio

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Eu não sou violento

Vivemos em meio a tanta violência e atitudes agressivas, que já nem somos capazes de distinguir com tanta facilidade onde, de fato, se concentra a violência. Há algumas semanas falamos sobre concepções equivocadas acerca do "ser mulher” (leia mais aqui) e como isto afeta os comportamentos das pessoas no dia a dia, inclusive na emissão […]


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shutterstock_172267871Vivemos em meio a tanta violência e atitudes agressivas, que já nem somos capazes de distinguir com tanta facilidade onde, de fato, se concentra a violência.

Há algumas semanas falamos sobre concepções equivocadas acerca do "ser mulher” (leia mais aqui) e como isto afeta os comportamentos das pessoas no dia a dia, inclusive na emissão de comportamentos agressivos. Da mesma forma que desenvolvemos visões equivocadas sobre o “ser mulher”, também desenvolvemos visões equivocas sobre “ser criança”, “ser negro”, “ser pobre”, etc.

O problema é que não percebemos que passamos de geração em geração essas concepções equivocadas, e a nova geração as reproduz com tanta naturalidade, como se não fosse possível ter um outro olhar.

Volta e meia, são noticiadas manifestações racistas em partidas de futebol ao redor do mundo. Com alguma frequência, jogadores de ascendência negra são chamados de macacos por torcedores. Recentemente tivemos um caso assim no Brasil. Uma torcedora, em meio a tantos outros, teve a infelicidade de ser filmada ao chamar um jogador de macaco. Sua imagem rapidamente passou a circular nas redes sociais. Era quase que uma espécie de “Procura-se”. De um dia para o outro ela passou a ser perseguida e perdeu a vida que tinha. As notícias acerca da perseguição sofrida pela torcedora flagrada me fizeram lembrar de um outro caso que já comentamos aqui há algum tempo, sobre uma mãe de família que foi alvo de perseguição (e morte) por parte de “justiceiros” da internet e de sua comunidade. (Para ler sobre este caso, clique aqui).

Chamar um jogador de “macaco” é agressivo. É agressivo também xingar, sentenciar à morte e perseguir quem comete um erro destes. Na verdade, o que é agressivo é ver a si mesmo como superior em detrimento dos demais. É ver o outro como menos digno por causa de cor de pele, gênero, idade, condição social, nacionalidade, etc.

Será que não cometemos violência quando seguramos mais firme nossas bolsas ao passarmos por um rapaz negro mal vestido? Não cometemos violência ao desdenharmos da opinião de alguém mais velho ou mais novo que nós? Não somos violentos quando reproduzimos piadas sobre mulheres e o trânsito? Ou sobre loiras? Somos violentos quando fechamos a janela do carro para não sermos incomodados por uma criança que pede dinheiro no semáforo? Ou quando fingimos que estamos dormindo, para não dar o lugar a um idoso ou uma grávida no ônibus? Não somos violentos quando aumentamos o tom de voz e levantamos a mão para uma criança sob o argumento de estarmos educando? (Veja o post sobre violência e educação aqui)

Somos violentos de tantas formas, mas nos achamos pessoas boas! Somos fruto de uma sociedade violenta, em que o amor é desconhecido, e a ordem é que sobreviva o mais forte. Trabalhamos pelo fim da pedofilia, do abuso sexual, do turismo sexual, da violência física e psicológica, e precisamos realmente lutar contra essas coisas todas. Mas, enquanto não eliminarmos a violência que existe em nós mesmos, estaremos apenas lutando contra algo que nossas próprias atitudes dão manutenção, e transmitiremos isso para as próximas gerações.

Se eu sou contra a exploração sexual infantil, não posso condescender em consumir pornografia. Uma coisa está ligada à outra. (leia sobre isto aqui). Se sou contra a violência contra a mulher, não posso rir e contar piadas que ridicularizam o sexo feminino. Em nossa mente, uma coisa está ligada à outra. Se eu sou contra a violência e desejo fazer do mundo um lugar melhor, não posso fechar os olhos para as pequenas atitudes violentas que reproduzo no dia a dia por influência da minha cultura local.

Temos uma luta importante, e ela deve iniciar com a revisão de nossas próprias práticas e concepções.

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